Estudo realizado pelo Laboratório de Ficologia da UFSC aponta aponta que toxinas presentes na Lagoa do Peri podem atingir o mar e contaminar ostras e mexilhões na praia do Matadeiro. O alerta é importante pois, as ostras e mexilhões filtram e concentram as toxinas, que podem ser letais.
Cianobactéria na Lagoa do Peri
Há registros da presença da Raphidiopsis raciborskii na Lagoa do Peri desde 1994, mas essas população de microalgas vem aumentando ao longo dos anos. A Raphidiopsis raciborskii é uma cianobactéria que produz uma das mais poderosas e letais toxinas naturais conhecidas: a saxitoxina, também chamada de toxina paralisante. As cianobactérias costumam se proliferar mais durante o verão, ocasiões em que foram encontrados os maiores índices de concentração do estudo. Durante o estudo foram encontrados níveis de saxitoxinas que passaram de seis microgramas por litro, nos dias de maior calor, sendo que o limite máximo permitido no Brasil para a água tratada, é de três microgramas por litro. Segundo os pesquisadores, quando foi constatado esse índice mais alto não havia a presença de espumas na lagoa, que poderia indicar um número ainda maior, situação inclusive que já foi registrada por moradores da região.
O estudo demonstra a importância do constante monitoramento da presença das cianobactéria na Lagoa do Peri. Segundo o professor Leonardo Rörig, do Departamento de Botânica da UFSC e um dos autores do estudo “Seria importante um bom investimento em um monitoramento maior. O monitoramento ali existe, mas a gente acha que ele deveria ser aprimorado”.
Riscos à saúde
Com relação aos banhos de lagoa a princípio não há problema algum, mas devem ser evitados sempre que houver a presença de espuma ou manchas visíveis, que pode indicar uma maior concentração dessa cianobactéria e pode causar reações alérgicas na pele. Já o banho de mar no Matadeiro, segundo o estudo não foi constatado problemas, já que as toxinas acabam sendo bastante diluídas até chegar no mar.
O problema maior está no consumo de ostras e mexilhões especialmente na praia do Matadeiro, onde desemboca o Canal do Sangradouro faz a conexão da Lagoa do Peri com o mar. As águas da lagoa, que chegam ao matadeiro podem vir contaminadas com a cianobactérias, que por mais que esteja diluídas, que ao serem filtradas por esses animais, podem acumular uma quantidade fatal de toxinas. Segundo Leonardo “Às vezes, tomando a água do mar, não vai ter problema, mas comendo um mexilhão que filtrou dezenas, centenas de litros de água ao longo de meses ou até anos de sua vida, sim. Comer essa carne do mexilhão, ou da ostra, com a toxina acumulada, pode levar à morte”. A população precisa ficar ciente desse risco fatal e deve não consumir ostras e mexilhões do Matadeiro em qualquer ocasião.
“A principal conclusão é que não se pode jamais, e tem que se controlar isso, colocar cultivo de mexilhões nas proximidades da Praia do Matadeiro ou consumir mexilhões e outros filtradores coletado naquela região, porque a chance de que esses animais tenham historicamente uma concentração dessa toxina é muito grande. Essa é uma coisa urgente de esclarecer à comunidade”, frisa ele. O consumo de peixes, contudo, não precisa ser evitado – eles não tendem a acumular quantidades consideráveis da toxina e são uma via de contaminação muito rara.
Outro ponto de alerta é sobre a captação de água que é feita pela Casan na Lagoa do Peri e que fornece água para praticamente toda a região sul do município. Segundo os pesquisadores há riscos de que o método usado pela Casan não detecte todas as toxinas presentes e que uma parte acabe indo parar nas torneiras dos moradores. Segundo o professor Leonardo “A gente encontra essa alga na caixa d’água de casas, já analisamos várias caixas d’água, filtros, e as algas se concentram. Essa concentração lenta e gradual, mesmo com pequenas quantidades de toxinas, que são indetectáveis num determinado dia, em algum momento podem se acumular na rede, numa caixa d’água ou num filtro e oferecer risco”. Ele aponta ainda que alguns estudos mostram que a ingestão constante de saxitoxina no decorrer dos anos, mesmo que em doses pequenas, pode resultar em sintomas neurodegenerativos, semelhantes ao do Alzheimer, além de afetar a química hormonal.
O Laboratório de Ficologia mantém parcerias e contatos frequentes com a Casan. Os dados obtidos no âmbito do estudo, inclusive, foram compartilhados com a instituição antes mesmo da publicação do artigo. Alguns progressos já foram observados, como a implementação de uma mudança no sistema de tratamento que pode tornar mais eficiente a eliminação das microalgas.
Para Leonardo, a pesquisa renova o debate sobre a segurança do uso das águas da Lagoa do Peri para abastecimento público. “O que o estudo indica é que existem doses muito elevadas na lagoa e que isso é um risco. A gente está sob constante risco de, eventualmente, se der algum problema no monitoramento ou no tratamento de água, estar distribuindo toxina na rede. Esse é um risco que tem que ser muito bem avaliado e monitorado”, ressalta o professor.
A matéria completa produzida pelas Camila Raposo, jornalista da Agecom/UFSC e com informações mais técnicas e detalhadas pode ser lida nesse link, no site da UFSC.