Sul de Floripa

Pico da Cruz, história e natureza

O Pico da Cruz, é um dos únicos pontos de interesse e referência na extensa e isolada praia do Rio Tavares. O local entre o Campeche e a Joaquina, é facilmente identificado pois, existe ali, em meio ao campo de dunas, uma cruz de cimento, que marca um trágico acontecimento do bairro, desconhecido por muitas pessoas que circulam no local.

A história remonta ao ano de 1961, quando o terreno que hoje abriga a Igreja de Pedra pertencia ao Colégio Catarinense e ali havia uma casa que servia de dormitório para padres. O fato trágico ocorreu dia 26 de dezembro, quando o padre Alfredo Dullius, que tinha apenas 45 anos, estava na região. Nesse dia fazia muito calor e junto com outros seminaristas, ele foi até a praia tomar um banho de mar. Conta-se que logo no primeiro mergulho o padre foi pego por uma corrente de repuxo, que o levou para onde não tinha pé. O mar estava revolto e mesmo tentando ajudar a resgatar o padre, os demais seminaristas não tiveram sucesso e Alfredo Dullius acabou se afogando. Na ocasião os padres chegaram a acionar um avião de treinamento militar para localizar o corpo, que após ser encontrado, foi resgatado por pescadores locais do Campeche. Quando chegaram à praia com o corpo, a notícia já havia se espalhado por toda a região e como o padre era professor e muito querido na comunidade, a praia estava lotada. Em homenagear o padre falecido, a comunidade colocou uma cruz no local para marcar o fato histórico da região. A cruz original era de madeira, mas devido ao seu apodrecimento ela foi substituída por uma cruz de cimento no ano de 2000. Essa nova cruz também precisou ser restaurada em abril de 2020 devido a um ato de vandalismo. Hoje em dia a Cruz segue firme e forte e usualmente ainda é possível encontrar velas e pequenas oferendas deixadas no local.

Pico da Cruz, história e natureza 1

Essa triste história deu nome ao local, mas hoje em dia o Pico da Cruz  é muito mais conhecido por ser um dos principais points de Surf em Florianópolis. A Praia do Rio Tavares é uma praia de mar aberto, com ondas fortes e regulares. Para o banho de mar, como já alerta a história do padre, pode ser bastante perigoso. É preciso estar atento às correntes e à sinalização dos Guarda Vidas, inclusive um pouco ao sul da cruz há um posto de Guarda Vidas, que é a única infraestrutura que a praia possui, não há bares, restaurantes, nem qualquer outra construção nessa praia, o que ajuda a selecionar o público que frequenta o local.

Posto Guarda Vidas do Rio Tavares

Para quem não conhece a região, ou a própria praia do Rio Tavares, que é pouquíssimo frequentada por turistas, vale a pena um passeio por ali. O acesso é feito exclusivamente a pé, caminhando pela Praia do Campeche ou da Joaquina ou por trilhas (curtas) a partir das ruas do bairro, e para dizer a verdade, só as trilhas que levam às até a praia já são um lindo passeio. A faixa de areia é extensa e a praia é muito familiar, com amplo espaço para todos. O local onde se encontra a cruz fica em uma área de dunas e restinga que é realmente linda e preservada. Dependendo da época do ano e das chuvas, lagoas se formam entre as dunas, fazendo um cenário ainda mais belo e repleto de vida.

Área de restinga e dunas

Felizmente as dunas do Rio Tavares estão protegidas. Elas fazem parte do Parque Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, que foi criado em 1988 para conter (ou tentar conter) a urbanização sobre essa região. O parque se estende desde as dunas da Joaquina até a Lagoa Pequena, no Campeche, com uma pequena porção que vai até a Lagoa da Chica. Se não fosse a existência de uma área de preservação, possivelmente as dunas estariam sendo invadidas com mais construções, como já aconteceu em outras áreas de restinga. É preciso estarmos sempre atentos para preservar a natureza e a história da cidade, para que nossa linda Floripa nunca perca seus encantos e sua identidade.

Essa história do Pico da Cruz em mais detalhes, e muitas outras do Sul de Florianópolis podem ser encontradas no excelente livro Campeche, um lugar no Sul da Ilha, de Hugo Adriano Daniel.