“E aí você fala que vive grudada na rede social, que não faz atividade física nenhuma, que a geladeira tá cheia de congelado, que tá perdendo o sono, engordando, não tem paciência com coisa alguma e que não vê a família, os amigos e nem faz questão de namorar… Mas mesmo assim me diz que tá tudo bem.” (O relato é de uma entrevistada que não quis se identificar para preservar uma amiga que nega qualquer problema e insiste em afirmar que está tudo bem).
Em 2020, um dos temas mais debatidos foi a saúde mental e ela ganhará ainda mais relevância em 2021.
Com a pandemia do COVID-19, muitos passaram a viver num estado de alerta constante, devido a um risco real. Longos períodos isolados, trabalhando em home office e tendo de conciliar a rotina casa-trabalho num contexto onde não há limites claros de onde começa um e termina o outro; muitos sem emprego; e muitos vivendo o luto pela perda de pessoas queridas levadas pelo vírus. O desafio, mesmo não tão nítido, era urgente: manter a saúde mental dentro de um cenário onde tudo parecia deslocado e diferente daquilo que todos estavam acostumados.
As mudanças repentinas não só impactaram fisicamente, como também mentalmente, e, no aspecto mental a doença que tem chamado a atenção é justamente aquela que serve de porta de entrada para outras, como por exemplo a depressão e a ansiedade.
Você já ouviu falar da Síndrome do Esgotamento Emocional? Sabe quais são os sintomas?
Síndrome do Esgotamento Emocional
- Cansaço mental e físico, constante? Mesmo após sono e descanso?
- Sono é irregular? Insônia ou demora para pegar no sono?
- Sem vontade de comer? Se alimenta pouco? Ou está comendo muito?
- Está difícil se concentrar? A produtividade caiu? Desanimou ou anda sem esperança?
- O pavio está curto? Tem estourado sem necessidade? Muito choro ou muita raiva?
De acordo com Samira Ghosn, psicóloga que tem consultório aqui no Sul da Ilha, esses são alguns dos sintomas que caracterizam uma pessoa vítima de esgotamento emocional. Além desses, ela também citou a perda de prazer por atividades que antes davam prazer, sensação de medo e excesso de preocupação. Esses dois últimos, segundo ela, deixam a pessoa em estado de alerta e isso prejudica não só o mental como o físico, pois libera excesso de adrenalina e cortisol (hormônio do estresse).
Outro sintoma é o isolamento social que, para alguns acontece gradativamente a ponto da pessoa não perceber que está adoecendo. Inclusive, este isolamento pode ser mascarado como uma regra de segurança durante a pandemia, pois a pessoa simplesmente justifica seu afastamento como uma recomendação, enquanto na realidade é algo mais profundo.
Somente com uma avaliação médica é possível fazer o diagnóstico, principalmente porque além dos sintomas psicológicos a pessoa pode também ser acometida por sintomas físicos como: palpitações cardíacas, dores de cabeça constantes, tensões de dores musculares, problemas digestivos e mudança de peso corporal.
Síndrome de Burnout X Síndrome do Esgotamento Emocional
Muitos têm confundido a Síndrome do Esgotamento Emocional com a Síndrome de Burnout. Essa se refere ao esgotamento profissional, exclusivamente. Enquanto que a outra se manifesta quando a pessoa sofre uma carga de estresse muita alta, diária e que está acima do limite que ela pode suportar. Não precisa ser, necessariamente, no ambiente de trabalho. Mães, donas de casa, adolescentes, jovens estudantes, entre outros podem ser vítimas da Síndrome do Esgotamento Emocional.
O emocional deu “tilt”! E agora?
A especialista em saúde mental pela Faculdade de Medicina de Marília (SP), a psicóloga Samira Ghosn, diz que as formas que cada um vai encontrar para cuidar de si são diferentes, e é muito importante que todos saibam buscar seus próprios recursos, mas alguns que podem ajudar são:
- Fazer terapia – poder falar, refletir, e construir novas realidades;
- Ter pessoas ao seu redor que te compreendam ao invés de julgar – nem sempre você estará cercado de pessoas que ajudem sua saúde mental. Selecionar melhor as pessoas do seu convívio pode ser um fator protetivo;
- Pedir ajuda – a cultura estimula que a pessoa resolva seus problemas sozinho, que seja forte e bem resolvida. Mas pedir ajuda ou uma palavra de conforto, pode auxiliar muito a passar por fases difíceis;
- Tentar modificar a causa do problema – por fim, é importante que a causa do esgotamento seja identificada para que possa ser modificada. E se parece difícil achar alternativas, lembre-se do ponto anterior, peça ajuda! Duas ou mais pessoas pensando podem achar soluções criativas para um problema aparentemente sem solução!
Conselho bom (nem sempre) é aquele que se vende
No início da matéria você leu o relato da amiga que não conseguiu alertar uma possível vítima da Síndrome de Esgotamento Emocional, mas tem quem já conseguiu.
O manezinho e yogue Anderson Morais já ajudou muita gente que cruzou o seu caminho e, segundo os ensinamentos que a vida lhe deu, o mais importante de todos foi o de olhar para frente. “A gente tem que tirar essa pressão de querer ‘dar certo’ ou de buscar recuperar o tempo perdido”. Segundo o morador do sul da ilha, e surfista nas horas vagas, nós já demos certo e só precisamos, regularmente, arrumar a nossa casa.
“O momento que estamos vivendo, especialmente pra quem está com o emocional esgotado, é mais do que nunca um tempo para colocar a casa interna em ordem, é vital limpar e organizar corpo físico, mente e espírito”.
A Campanha Janeiro Branco
Janeiro é conhecido por ser um mês em que grande parte da população mundial estabelece novas conquistas, se auto avalia e faz profundas reflexões sobre si mesmo.
Em sua 8ª edição, a campanha “Janeiro Branco” nunca foi tão urgente e necessária. Idealizada pelo psicólogo Leonardo Abrahão, no ano de 2014, ela tem como foco convidar as pessoas a refletirem sobre a qualidade das suas vidas e dos seus relacionamentos, além de levar o tema para debates em espaços públicos.
Com a pandemia da Covid-19 é primordial conscientizar à todos sobre saúde mental. E, por essa razão, o lema da campanha de 2021 é: “Todo Cuidado Conta”. É de extrema importância preparar a sociedade para lidar com o crescente impacto dos problemas de saúde mental.
Inclusive, a saúde mental foi tem da redação do ENEM 2021, levando os estudantes a refletirem sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.
Com tudo isso que estamos vivenciando, o nível de estresse e esgotamento emocional de milhares de pessoas aumentou, e segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), quase 30% da população não procura atendimento. O que demonstra a necessidade de investir em políticas públicas que desmistifiquem o preconceito às doenças mentais.
Alguns caminhos para pedir ajuda?
- Psicóloga Samira Ghosn – Consultório no Rio Tavares e atendimentos online – (48) 99104-0769
- Posto de saúde do seu bairro: atendimento primário e, se necessário, encaminha para especialista
- Instituto de Psiquiatria Colônia Santana– Emergência 24 horas – (48) 3954-2000
- Hospital Universitário da UFSC – Psiquiatria – (48) 3721-8293
- Hospital Universitário da UFSC – Núcleo de Neuropsicologia e Saúde – (48) 3721-8293
- Serviço de Atenção Psicológica – SAPSI – (48) 3721-4889 – sapsi.paginas.ufsc.br
- CVV – Centro de Valorização da Vida – Atendimento 24 horas – 188 – cvv.org.br