Diagnóstico e identificação dos problemas estruturais existentes que atingem a integridade ecológica da Lagoa da Conceição são o tema da Nota Técnica Nº 4/2023do Programa Ecoando Sustentabilidade. Os pesquisadores do programa são representantes da Universidade Federal de Santa Catarina na Câmara Judicial de Proteção da Lagoa da Conceição, criada para colaborar com o Poder Judiciário para adotar uma governança com responsabilidade ambiental para o local. O documento servirá como subsídio na elaboração do Plano Judicial de Proteção da Lagoa da Conceição (PJ-PLC).
Confira a íntegra da nota técnica.
Uma das autoras da nota, a professora do Departamento de Geociências da UFSC Alessandra Larissa Fonseca espera que seja possível iniciar a restauração da Lagoa da Conceição e áreas de proteção permanente adjacentes. Os problemas atuais, aponta, podem ser potencializados pelas mudanças climáticas, com eventos de calor extremo e chuva excessiva – o aquecimento leva à diminuição de oxigênio na água e uma precipitação considerável carrega mais poluentes para a Lagoa.
O documento integra a ação civil pública 5012843-56.2021.4.04.7200 (JFSC) e alerta que “a urbanização, a falta de tratamento adequado de esgoto e as demais intervenções humanas na bacia hidrográfica da Lagoa da Conceição estão promovendo a perda do patrimônio natural, cultural e econômico da Ilha de Santa Catarina. O cenário futuro é preocupante, considerando os diversos projetos e interesses que estão sendo apontados pelos gestores locais, como a construção da ponte nas rendeiras, Plano Diretor Municipal, o projeto de Macrodrenagem, intervenções no canal e o aterro de áreas rasas”.
A publicação contextualiza a formação de lagoas costeiras e as “diferentes fases de funcionamento do ecossistema/sujeito Lagoa da Conceição”, incluindo a fixação permanente da barra da lagoa em 1982, quando “mudou de um sistema predominantemente de água doce com intrusões esporádicas de água salgada para um sistema predominantemente de água salgada com mistura de água doce”. Esta mudança alterou a composição de espécies na Lagoa da Conceição e possibilitou o surgimento de “zonas mortas”. O texto aponta as transformações da população e economia local, de um pequeno número de pessoas voltadas para a pesca e modo de vida tradicional para as atividades de turismo e lazer.
O rompimento da lagoa de evapoinfiltração da estação de tratamento de esgoto da Casan na Lagoa da Conceição e o deságue repentino de cerca de 180 milhões de litros (valor estimado) são destacados pelo relatório: “Se considerarmos as cargas médias de nutrientes exportadas pelas águas superficiais de toda a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição para o corpo lagunar, a carga de nutrientes despejados pela LEI-ETELC/CASAN, em poucas horas, no dia 25 de janeiro de 2021, correspondeu ao que aconteceria em 24 e em 39 meses para nitrogênio e fósforo, respectivamente”. Entre os resultados imediatos da entrada de esgoto na lagoa, estão “a expansão da zona morta, a ocorrência de sucessivas florações de algas, mudando a cor da laguna, a mortalidade generalizada de organismos aquáticos e a entrada de espécie exótica e invasora”.
Fonte: UFSC