Um novo estudo verificou a rápida dispersão de microplásticos com origem no porto de Itajaí, em Santa Catarina. Esse material pode chegar às praias de Florianópolis, cerca de 80 quilômetros ao sul, em até dois dias. As constatações, que acendem um alerta para a gestão portuária sobre perda de materiais transportados em contêineres, estão em artigo na revista científica “Marine Pollution Bulletin” publicado nesta quinta-feira, 26 de setembro.
Assinado por pesquisadores das universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e do Espírito Santo (Ufes) e da Universidade de São Paulo (USP), o trabalho avaliou a trajetória de microplásticos primários, conhecidos como pellets, lançados dos portos de Itajaí e de Imbituba, este ao sul de Santa Catarina. Os pellets são pedaços de plástico com cerca de cinco milímetros utilizados como matéria-prima para a fabricação de produtos maiores pela indústria.
A equipe realizou simulações mensais durante um ano, levando em conta que as condições de circulação no oceano variam de acordo com os meses e podem afetar a direção e a velocidade do material. O estudo se baseia em modelo de dispersão de partículas que considera condições como temperatura, salinidade e fluxo da água para prever a movimentação dos pellets e em quais regiões eles tendem a se depositar.
Para avaliar a chegada das partículas à costa, os cientistas calcularam um índice de poluição que considera o número de itens identificados por metro quadrado de superfície. Segundo o índice, as praias com nível mais alto de contaminação por resíduos plásticos são Moçambique e Brava, ao norte de Florianópolis.
“Os resultados confirmaram a nossa hipótese de que os pellets que chegam a Florianópolis vêm do porto de Itajaí”, conta a oceanógrafa Camila Kneubl Andreussi, principal autora do estudo. “O que nos surpreendeu foi o quão rápido eles chegaram até a Ilha de Santa Catarina e em locais bem mais ao sul, como a região de Laguna”.
Os autores observam que ainda há poucos estudos avaliando a trajetória dos microplásticos na costa brasileira. O artigo alerta que não somente as praias de Florianópolis, mas também outras áreas da região, como o Sistema Estuarino de Laguna e a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, estão sendo atingidas pelos pellets, reforçando a necessidade de monitoramento abrangente.
Segundo os especialistas, há uma urgência da implementação de medidas de controle e de redução de perdas durante o manuseio e transporte de pellets. “São importantes programas de cooperação entre municípios e autoridades regionais para criar ações coordenadas de monitoramento da poluição”, complementa Andreussi. A oceanógrafa diz que a equipe pretende continuar investigando o impacto dos eventos extremos na dispersão dos plásticos e essa dispersão, também, em outras regiões.