“Toda a criação, até o presente, geme como em dores de parto” (Rm 8,22).
Querido povo de Santa Catarina,
Nós, participantes da 26ª Romaria da Terra e das Águas, peregrinos das dez Dioceses de Santa Catarina, reunidos em Governador Celso Ramos, dirigimos a vocês esta carta, com o coração cheio de esperança e compromisso. Somos todos peregrinos da Esperança! Nutrimos um sentimento de profunda comunhão com nossos irmãos e irmãs do Rio Grande do Sul. Estamos unidos não apenas pela fé, mas também pela solidariedade com eles, que recentemente enfrentaram a devastação causada pelas enchentes. A dor de nossos irmãos gaúchos é também a nossa dor, e devemos estar atentos e prontos para ajudá-los.
Inspirados pela sabedoria do Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Si’, somos chamados a uma “conversão ecológica” que emerge de uma transformação interior, movendo-nos a amar mais profundamente a Deus, aos nossos irmãos e à criação. Como o Papa Francisco aponta, não há duas crises separadas – uma ambiental e outra social – mas uma única e complexa crise socioambiental. Este entendimento nos convoca a agir, reconhecendo nossa responsabilidade em cuidar da Terra e uns dos outros.
A Laudato Si’ nos desafia a ver o mundo como um presente de Deus, um empréstimo que devemos preservar para as gerações futuras. Acreditamos firmemente que tudo está interligado e que nossas ações têm impactos diretos na criação. Somos inspirados pelos ensinamentos de São Francisco de Assis, que nos lembra que a Terra é nossa casa comum e que devemos tratá-la com amor e respeito.
A conversão ecológica proposta pelo Papa Francisco nos chama a reconhecer nossa contribuição para a crise e a buscar soluções que envolvam mudanças profundas em nosso comportamento e em nossas estruturas sociais. Devemos adotar um novo estilo de vida que reflita nossa vocação de guardiões da obra de Deus, integrando práticas sustentáveis e respeitando os limites do nosso planeta.
Convocamos todas as paróquias de Santa Catarina a integrarem a dimensão da ecologia integral em suas ações pastorais promovendo o cuidado da nossa Casa Comum. A paróquia deve ser um espaço de conscientização e ação, promovendo práticas cotidianas integradas às ações pastorais que favoreçam a conversão ecológica e o cuidado da criação.
Convidamos todas as comunidades a se unirem a nós nesta missão, adotando práticas sustentáveis em suas casas, escolas, locais de trabalho e igrejas. Cada um de nós pode fazer a diferença através de ações cotidianas: separar o lixo, apoiar a coleta seletiva, incentivar a compostagem e promover o uso de energia renovável. Repensemos nossos hábitos de consumo. Devemos também preservar nossos recursos hídricos, evitando a contaminação dos lençóis freáticos e captando água da chuva para reutilização. Na agricultura, promover práticas ecológicas que respeitem e cuidem da terra.
Também enfatizamos a importância de preservar nossas águas e biodiversidade, cuidando dos rios, lagos e matas ciliares, e respeitando a fauna local. Adotar medidas para reduzir os impactos das enchentes e inundações, como o desassoreamento dos rios, construção de bueiros e reflorestamento das margens dos rios. Nosso gesto concreto será o plantio de 10.000 árvores, cada Diocese do Regional Sul 4 deverá plantar 1.000 mudas de árvores até o final do ano.
Como agricultores e cidadãos, temos a responsabilidade de adotar práticas sustentáveis que promovam a vida e a saúde de nossa terra e águas. Juntos, como uma única família humana, rejeitamos a globalização da indiferença e nos comprometemos a ouvir os gritos da criação, trabalhando pela dignidade e justiça para todos. Que esta carta seja um chamado à ação, uma expressão de nossa fé e um compromisso de amor pela Terra e pela vida.
Que a graça de Deus nos fortaleça nesta missão, e que possamos caminhar juntos: na comunhão, na participação e na missão. Nossa Senhora do Desterro interceda por nós nesse vale de lágrimas e nos guie nesse caminho de peregrinação e esperança.
Participantes da 26 ª Romaria da Terra e das águas
“Peregrinos da Esperança no Cuidado da Casa Comum” Município de Governador Celso Ramos
Arquidiocese de Florianópolis, 9 de junho de 2024
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